quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

O dia em que chorei

 
Triste partida, dor, saudade
lágrimas enxugadas em papel toalha
e a mente dilacerada

Em busca de refúgio
procuro-te na mais bela canção
notas que entoam o desejo
estar presente
carne, corpo, carícia
embrigar-me no seu beijo
meu deleite !

Estás em minha bebida quente
nas noites frias
pertubada com sonhos e desejos

Lembranças de nossos corpos
vibram, tocam-se
tem, me tem
mãos que se entrelaçam
acariciam-se
perseguem-se
sinuosamente
busco sua língua
sua saliva
engole-me
aperte-me
sinta-me
tenha-me
em seu  momento de prazer
ao amanhecer ou anoitecer

Resquícios da noite anterior
onde o desejo e a dor
queriam ser flor

Sandra Zuba

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Paralisia


Poucas coisas ainda comovem
novidades chegam em barcos à vela
não geram lágrimas
não geram sorrisos

Paralisia
cerebral, social, cultural, transexual
suspiros diante da fatalidade
sobreviverá?

Sandra Zuba
Teria

Teria o  Espirito Santo em forma de ave
acompanhado de um cavalo negro
me visitado?

Teria eu acumulado dádivas
e sentada a observar o tempo
deparar com um ser divino?

Teria eu alimentado de peixe e pão
em dia santo, cheio de orações
contemplado o tempo em uma praça moderna
após permanecer diante de uma matriz?

Teria eu sido escolhida
para transmitir em linhas
a plenitude da existência?

Teria eu vindo ao mundo
nascida entre guerras e lamurias
para presenciar a verdadeira felicidade
que consiste em amar e perdoar?

Teria eu um breve sono
cheio de mistérios
para breve vaticinar?

Teria eu experimentado a vida
de forma tão dolorosa
mesmo apreciando suas feridas
choraria o mais alto choro?

Teria eu descoberto
que sendo filha do universo
apenas posso amar?

Teria eu andando pelo mundo
conhecendo tudo a e todos
apenas experimentando
para no fim clamar o desejo de voltar

Teria??

Sandra Zuba

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

É preciso ler poesia
Para fazer poesia é preciso ler Poesia
deliciar-se com as palavras
excita-se com as citações
copular com os versos
interpretando-a sem lógica
compreendendo algo incompreensível
buscando um fim
uma conclusão sobre algo que é infinito


Para fazer Poesia não é preciso ler Poesia
o Eu poético é mais que Poesia
é vida, é entrega, é tortura, dor, alegria
palavras, sons, rimas, versos, prosas
vida minha, vida sua, nossa vida


As mais lindas frases buscam o Poeta
dizia um velho que habitava a grande montanha


Confusão que se tornou conturbação
tudo é real, tudo é irreal
belos versos os de Drummond
contemple a plenitude poética


A poesia que consiste na loucura de um ser
meu ser poético é Poetisa
vira e mexe se torna mulher sensível, forte, lutadora


Nas minhas andanças pelos becos
os lugares tornaram-se Poesia
as cenas tornaram-se factos
os factos tornaram-se contos
Tudo é Poesia


Não quero mais problemas com a gramática
descobri a Poesia
supre-me, detém-me
leve mente a voar
doce prazer
envaideço diante das palavras
ápice da liberdade

Sandra Zuba
Busca da verdade

Mais uma breve história sobre o destino
traçado por mapas cheios de percussos
apenas ir, seguir em frente
chegar onde o nada foi estabelecido

As análises, o pré-estabelecimento
escrito e discursado
parece não fazer efeito
diante da realidade
que não sabemos existir

Retorno ao meu centro
reencontro-me,não sei quem sou novamente
o corpo já não é o mesmo
na dúvida, viverei o presente
esqueço-me do passado
vejo novas linhas a cruzar no horizonte
quem tiver a pretensão
que diga em alta voz
que conhece toda a verdade

Gargalharei, baterei palmas
pela tentativa e coragem

Escondida em meus vagos pensamentos
faço uma pausa
aqui estou, sou
sei mais uma vez que nada sei

sandra zuba

domingo, 26 de dezembro de 2010

Noite de Chuva
Uma noite de chuva
na terra do calor e da dor
de gente sofrida, que come pão dormido
mas acorda feliz, por amor a vida

Dias de chuva no meu sertão
alimenta a fartura e abriga os famintos
deixa o ser frente a frente com a vida
recordações que buscam a ilusão

barulho de chuva, terra molhada
alegria para seu José e Dona Maria
muita fartura na roça de seu Josias
sorriso sem dente, brava gente

cai água no meu sertão
cai lentamente, porque seu povo é paciente
não demora o amanhecer
vai brotar milho na fazenda
os moleques vão nadar no rio
e encher a pança
com comida feita em fogão de lenha

chuva fininha na madrugada
um cigarrim e um cafezim
lembranças da infância
fazenda, Vovó e Vovô
frango caipira na panela
abraço aconchegante
camisa tecida pela velha
hoje nasce uma criança

Sandra Zuba

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Tudo e Nada

Observando o universo
planetas que em breve  serão visíveis
complexidade no entendimento  da criação
quantas latitudes e longitudes
por onde passei !

Considero-me uma fracção de segundo
Não sou nada
                       e sou tudo
                                  dentro do meu mundo.

Sandra Zuba
Doces momentos de desejo

 
Mãos que se entrelaçam
acariciam
sinuosamente
tocam-se, perseguem-se

busco tua língua
sua saliva
engole-me
toque-me
aperte-me
sinta-me

tenha-me no momento
      de teu prazer
ao amanhecer
ou anoitecer
enquanto houver você

Sandra Zuba

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Compreendo
Compreendo,
  muito mais do que imaginas
compreendo,
  porque estive perto do seu coração
e ainda tenho-o em mim
compreendo,
  não nego

Meu amor é compreensivo e paciente
resulta em doces lágrimas
que não são necessárias
mas que florescem no jardim da minha alma
e um dia se tornarão lembranças

E quando as lembranças se tornarem realidade
quem sabe ainda poderemos nos admirar
e perceber que tudo se explica na simplicidade
e que a essência da vida é ser flor
não espinho

E se os espinhos fizerem questão de machucarem
as feridas serão cicatrizadas
em tempos curtos ou distantes

para quem tem a eternidade
preocupa-me apenas  o tempo
que estarei longe de ti

Sandra Zuba
Morte pela Paz

Havia um tempo em que a paz não reinava
os homens se matavam
torturavam uns aos outros
matavam seus filhos e seus inimigos
as mulheres se prostituíam
as crianças esquecidas, morriam
              sem identidade

Os aproveitadores deliciavam a situação
             breve banquete

não havia cidadania
não havia democracia
apenas uma ditadura imposta pela sociedade
inconsciente, analfabeta
analfabetismo idiota
... uma depredação letal a natureza
meu meio, minha sobrevivência
nossa sobrevivência

depois de anos de minha viagem verde
tudo tornou-se vermelho
houve esperança
houve revolta
grandes transformações, erupções
conturbação

futuro movido pelo sangue
as ilusões faliram
todos venderam-se
o grande dragão soltou suas chamas de fogo
domínio da grande serpente
império estabelecido

resta-me lembrar do tempo que éramos inocentes
havia conto de fadas
e as fogos faziam parte apenas das festas juninas

Sandra Zuba

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Doce Alegria

E o sol raiava
e o bonde passava
e o bonde apitava
e o menino sentado no barquinho dizia:
-Vai vai bondinho


e os pássaros voavam
e o bonde voltava
e o bonde sumia
e o menino sentado no banquinho dizia:
-Vai vai bondinho

e o menino sorria
e o bonde chegava
e o bonde freava
e as pessoas entravam
e o menino sentado no banquinho dizia:
-Vai vai bondinho

o crepúsculo chegava
as estrelas brilhavam
as luzes do bonde se apagavam
o motorista partia
e o menino chorando dizia:
-Não me deixe bondinho

e o sol raiava..
o menino acordava
e sorrindo dizia:
-Bom dia bondinho

sandra zuba
Canção para mim
 
Foi assim, numa noite fria
chegou de mansinho
tocou em mim
arrepiou meu coração
lembranças acendidas
aqueceu-me

Coloquei minha cabeça em seu ombro
pedi arrego
somos almas dilaceradas
em busca da verdade
encontramo-nos

Rápido como a tempestade
avassaladora relação que atinge o coração
não consegue distinguir o que é a verdade
perde-se na dúvida, busca o reencontro

Desesperado
tu cantantes para ela
percebi sua doce poesia
abrace-me!

Busque a tua essência
sinta meu perfume
com suave desejo, toque uma canção para mim

Somos dois, queremos ser um
seja como o universo ou como faísca de fogo
apenas somos
e viver é muito mais que chorar

Somos vida!
estou aqui para te acalmar

Sandra Zuba


Contradições

seres humanos,  mamíferos
inconstância de uma espécie
criação divina em tempos de tecnologia

brancas, claras, negras, escuras
japonês, irlanês, escocês ou javanês
cá e lá, aqui estão elas
passeando na passarelas
escorregando em buracos sujos

lá vão elas, lavando roupa cara
carregando milho pra panela
cantando falsas ideologias

faz música, faz arte
faz  guerra e desastre
esquece-se da religião
abriga-se em trincheiras
confundem-se as vezes
com lama podre e fedida

mas quando enche-se de amor
paz que instaura
tempo que não passa
fim de tarde, pôr do sol
brisa ao fim do outono
raiando em montanhas mineiras
entre rios e nascentes
um leve sorriso
orgulho de ser gente

Sandra Zuba

O retorno

O retorno

E volta a alegria
a emoção, o riso, a inocência
a vontade de ultrapassar os limites
a certeza divina que nunca abandona
e volta todo o brilho
toda a energia positiva existente
meditar, orar
esperar o velho tempo
ouvir doces vozes, sons que vibram
sentir o leve e  suave cheiro da primavera
ser tocada pelos raios do sol
ser acariciada pelo amor divino
nada melhor do que Ser
eterna criança, cheia de esperanças!

 Sandra Zuba